terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Sacred Oasis

          "Eu te amei em segredo desde o primeiro momento", ela me disse. Tudo o que eu conseguia saber era que não deixaria chegar ao fim, alguma maneira de recomeço haveria de haver. Nós já nem sabíamos mais o que estávamos fazendo, afinal, estávamos dançando de mãos atadas. A -falta da- respiração ao encarar o brilho dos seus olhos nessa meia luz mexia com os meus sentidos e eu ficava zonzo a cada movimento mais próximo. O vento sutil me arrepiava os braços até a nuca e eu podia sentir que ele me rodeava como se dançasse conosco. Suas formas pareciam ainda mais belas nesse jogo de luz.
          Ao som dos sintetizadores e das distorções, me distorcia todo junto e não sabia dizer se ainda corria contra o tempo ou se já concluíra meu objetivo antes do cronômetro zerar. As batidas mais intensas afastavam-na de mim e conduzir essa dança talvez fosse a coisa mais difícil que já fiz nesse relacionamento. O perfeito timing entre os passos e o ritmo. Conduzir-nos para outro mundo era parte da mágica sinistra que nos envolvia e eu não sabia dizer o que ela queria dizer com a expressão em seus enormes olhos de amêndoa. Simplesmente não sabia.
          Nela, essa atmosfera parecia libertar. De alguma maneira obscura ela sentia leveza. Isso fazia parte dela e de quem ela era, e de alguma maneira mais sinistra ainda isso me encantava. Fazia parte de tudo o que vinha junto no universo dela. Não haveria beleza maior por aí.
          "Então, baby, poderíamos dançar em meio a uma avalanche?". Mil vezes disse sim. Mil vezes diria.

(first sight, invisible locket)

4 comentários:

  1. Esse teu texto me deu uma sinestesia incrível, pude sentir bem cada coisa que tu descreveu. É lindo!

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    1. Poxa, que bacana Ana! Fico muito feliz, real mesmo.
      Obrigado <3

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  2. Gostei bastante, seus textos têm muita força. Continue escrevendo =D

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