sexta-feira, 23 de março de 2018

Novo bruxo

          Uma curta viagem até o planeta destino marcado há 11 luas atrás. Bono mal podia esperar para rever Mino, enfim. Éden parecia menos rosa estar. Uma tonalidade alaranjada pairava no ar e seu aroma doce cheirava mais amadeirado, com alguns toques metálicos. A atmosfera do planeta havia mudado um tanto e ele logo percebeu que haviam acontecido coisas ali. Talvez fosse uma parte de Éden que Bono ainda não conhecera, mas dificilmente acreditaria nisso. Sua intuição dizia que algo estava acontecendo e foi ficando ansioso pelo encontro com Mino. Na terceira árvore não havia absolutamente nenhum sinal de sua presença. Será que estava adiantado demais? Sua ansiedade não permitia racionalizar a passagem do tempo adequadamente. Deixou sua bolsa, para o caso de Mino vir, e resolveu desbravar um pouco da nova-Éden.
          Algumas horas entre vilas e montes, observou ao longe o que parecia ser uma aldeia. Achou curioso e resolveu se aproximar para conhecer quem quer que pudesse morar por ali. Ao chegar, enfim, caminhou pelas vielas das casas de palha. Pareciam frágeis, mas, se observadas de perto, podia-se notar que eram firmes e até bem estruturadas. Estranhava não ter avistado ninguém ainda. Um vilarejo abandonado, talvez. Ouviu sons vindos de uma cabana próxima a algumas árvores mais adiante. Resolveu espiar.
          Ao chegar na cabana, contornou-a e observou pela janela. Pedaços de cortinas grandes e sujas, meio transparentes, cobriam quase toda a visão. Pôde perceber que havia alguém na casa. Por um breve momento pensou que poderia ser Mino, mas essa ideia logo lhe passou ao ver a figura passar rapidamente pela janela. Não conseguia enxergar direito, porém estremeceu. Tinha um forte sentimento de familiaridade. Como poderia ser se nem ao menos vira seu rosto? Caiu pra trás quando, num repente, a cortina foi puxada rapidamente para o lado, revelando alguém por trás. Seus olhares se cruzaram e Bono ficou tonto ao identificar Vicente. Não o conhecia, mas o andava vendo frequentemente em suas visões confusas. Por entre fugas de trens e seitas, corriam sempre lado a lado fugindo ou resgatando um ao outro de algo. Se encararam pelo que deve ter durado cerca de dez minutos. Vicente tinha uma expressão firme e olhos fundos. Era quase como se tivesse sido sugado para dentro deles durante todo o tempo em que se encararam. A sensação era a de cair pra sempre sem nunca chegar ao chão. Por fim, ele saiu da janela e Bono soltou o ar respirando com força, como se tivesse prendido a respiração durante todo esse tempo.
          Pouco tempo teve de se recompor e logo ao levantar-se viu a porta ao seu lado abrir. Vicente apareceu à porta.

     - Entre. - ele disse. - Parece que temos muito a conversar.

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